9.10.05

Eu, porém, relembrava o meu susto à subita presença de alguém que agora sabia ser eu. (...) Diante de mim estava uma pessoa que me fitava com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava. Aproximei-me fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobría qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo. Quantas vezes mais tarde eu repetiria a experiência no desejo de fixar essa aparição fulminante de mim a mim prório, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me anunciava.
Vergilio Ferreira (1994), Aparição, p. 70

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