Eu, porém, relembrava o meu susto à subita presença de alguém que agora
sabia ser eu. (...) Diante de mim estava uma pessoa que me fitava
com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava.
Aproximei-me fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém
que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu
tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então
vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobría
qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo. Quantas vezes mais
tarde eu repetiria a experiência no desejo de fixar essa aparição fulminante de
mim a mim prório, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me
anunciava.
Vergilio Ferreira (1994), Aparição, p. 70
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